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14 abril 2016

Família


Dizem que família são aqueles que te protegem. Dizem que são os que se preocupam com você, que torcem por você, que lutam por você. Que é um grupo de pessoas que residem na sua casa e possuem um laço de sangue (nem sempre comprovado).

Eu digo que é mais complicado que isso.

Família são aqueles que complicam sua vida, aqueles que às vezes estão por perto e às vezes não. Eles sempre tentam ajudar, mas da forma deles e nem sempre é a que você preferiria. Eles se importam com você e ao mesmo tempo pensam que é tudo culpa sua, eles te dirão um monte de conselhos e seguiram apenas dois, eles dirão o que fazer o tempo todo e nunca escutarão o que você tem a dizer.

Família é muito mais do que um pai, uma mãe e uma tia. É mais que uma porção de primos e vós que podem ser tão fofas quanto assustadoras. É mais que um tio legal e outro que você nunca viu. É mais do que seu cachorro, seu gato e seus três peixes que sobrevivem mesmo quando você se esquece de alimentá-los por uma semana.


Família é aquilo que você pensa quando aquela pessoa que você não gosta tanto precisa de sua ajuda. É o que você sente ao ser abraçado no seu pior momento. É o que você diz quando a defende de alguma injustiça. É o que você espera no final de um longo dia. É o que você deseja ao se perder. É o que te torna uma pessoa melhor ou pior. É o que te obriga a mudar e o que te faz desejar consertar tudo aquilo que parece errado. É nada mais e nada menos do que as poucas pessoas no mundo que você tem como suas, e que para o melhor ou pior são as que se lembrarão de você mesmo quando não puderem mais te ver.

18 novembro 2015

3 & 2





Ela olha atentamente a pequena tela de vidro e solta uma risada. 

Normalmente eu não o sou o tipo de pessoa que reclama da tecnologia e fica escrevendo coisas por ai sobre como a internet finca suas garras sorrateiramente e devora sua consciência antes mesmo que perceba. Na verdade estou mais para o lado daqueles que apreciam o conforto de não ter que interagir pessoalmente com os outros, principalmente quando tudo o que você quer é desaparecer. Mas no caso dela, eu realmente me irrito. 
 Eu não consigo entender como ela pode simplesmente achar graça de tudo, até das coisas mais inúteis e ficar rindo sem parar numa sala onde ninguém mais sabe qual é a piada. É simplesmente irritante. E tudo o que penso quando o cansaço se agarra sobre mim como um maldito vírus é que eu poderia esganá-la quando ela ri tão despreocupadamente sobre alguma bobagem que encontrou em qualquer rede social que ela esteja.

É muito irritante. Na verdade ela é muito irritante. Absurdamente irritante. É como aqueles concentrados que se vendem em supermercados, só que um que pode torna-lo um homicida. 

Ela também é teimosa como uma mula e completamente irredutível quando toma uma decisão sobre alguém. Ela também pode ser vingativa, tem a péssima mania de dramatizar tudo e reclamar infinitamente sobre atenção. Porque pra ela atenção tem que ser 24 horas, ou pelo menos em uma base regular com uma pausa a cada 3 horas caso você seja humano e precise de, você sabe, fazer outras coisas para viver como comer e beber água.

Ela é desnecessariamente chorona, não sabe fazer linhas retas e toma café puro. Nunca faz o que pedem na hora, mesmo que não esteja fazendo nada. Suas coisas são sempre uma bagunça e ninguém nunca sabe como foram parar assim. Ela não gosta de brincadeiras. Eu sou sarcasmo não destilado. Eu quero que todos se calem. Ela nunca se cala. Ela adora fotografia. Eu odeio tirar foto. Eu quero ler. Ela quer tocar. Eu digo agora. Ela diz depois. Eu sou 3 e ela 2.
Eu poderia esgana-la.

Porém.

Porém nós temos um código de quem apaga a luz e quem se arruma primeiro. Eu sei quais são os seus jogos favoritos e ela sabe a ordem dos meus livros. Eu sei todos os seus medos e ela conhece todos os meus segredos.

Ela gosta de escrever notas escondidas para que somente eu leia. Ela tem todas as minhas palavras gravadas e decifradas. Sabe aquilo que não digo e diz aquilo que preciso. Chora quando eu não consigo e entende as referências.

Ela é generosa, inteligente mesmo que preguiçosa. Preocupada e atenciosa. Ela entende a diferença subliminar e consegue ser engraçada em seu jeito de atrapalhada.

É. Talvez eu não vá esgana-la no fim das contas.
Não é culpa minha, é que há leis mais antigas. Regras que não posso mudar... Algo sobre os opostos terem sido feitos para se completar.

08 novembro 2015

No olho da Tempestade



Essa noite estou me sentindo inquieta como se houvesse algo pronto para transbordar de dentro de mim. E eu não sei ao certo como expressar esse amontoado confuso que me faz desejar algo que não sei nomear.

Talvez seja porque tenho passado por muitas coisas ultimamente, talvez seja porque ultimamente tenho estado tensa, cansada, confusa e com medo de tudo. Mas quem é que não passa por isso?

É somente por eu ser quem eu sou que sinto que devo fazer algo com tudo isso. Não consigo me impedir de me afundar nesse mar revolto e buscar palavras que possam me trazer alguma salvação. Não consigo me impedir de saborear todas essas sensações, numa tentativa tola de entender tudo isso e encontrar uma solução mágica pra toda essa merda do dia a dia.

E como eu sou eu, está mais que na hora de me deixar afogar.

Lentamente. Bem lentamente.

Todas essas sensações vão enchendo meus pulmões, ele vai doer um pouco a principio, mas então minhas mãos vão parar de se debater e meu corpo vai se sentir pesado e tudo o que poderei sentir é que poderia dormir um pouco. Então meus olhos vão se fechando e tudo o que me aguarda por detrás das minhas pálpebras é uma escuridão acolhedora.

Um. Dois. Três.

Finalmente estarei submersa dentro de mim mesma.

Agora já não me preocupo com mais nada. Nessa escuridão a única preocupação é a próxima palavra. Assim que pronunciada ela tomará vida e tudo o que tenho que fazer é me deleitar com a história que será criada. É como ler um livro numa aconchegante poltrona num dia de chuva, como ver um bom filme antigo que você conhece todas as falas, como ir ao teatro ver uma peça de um autor que você adora.

Nesse abismo tudo o que basta é se deixar inundar por tudo aquilo que rodopia num caos em seu peito e então uma palavra tomará o palco no olho da tempestade.

Uma história nascente é tão bela quanto o nascer do sol. Eu sempre me sinto ansiosa e então eu vejo o brilho de uma heroína se levantando. Vejo como ela parece perdida, desarmada e sem nenhum poder ela aparenta ser frágil, mas suas mãos não tremem. E apesar do medo que resplandece em seus olhos ela ainda mantem a cabeça erguida para enfrentar a tempestade ao seu redor.

A tempestade se torna mais furiosa como que lançando um desafio e começo a pensar em tudo aquilo que me aflige, todas as minhas preocupações, todas as minhas chateações e medos que me perturbam o sono. Formas indefinidas se agitam dentro do caos até que de repente todo o vento cessa, um último sopro lança uma poeira clara sobre meus pés e a minha frente tudo está formado. Um novo mundo, com todas as suas personagens e vilões e a heroína à minha frente pronta para iniciar sua jornada.

E eu sei que assim que ela der o seu primeiro passo a história irá começar e todos os sentimentos inquietos no meu peito serão desdobrados, retorcidos e invertidos. E talvez dessa forma, a única que conheço, possa entender tudo isso.

E talvez... Apenas um talvez, eu possa encontrar as respostas que preciso para as perguntas que gritam sem parar em minha mente.

27 outubro 2015

Lagartixas mortas



Paradas estão,
Paradas estão as lagartixas em frente ao meu portão.
Estão mortas, todas mortas, assim como esse silêncio morto que ecoa em meu coração.
Há uma rachadura no pavimento do lado de seus corpos miúdos,  mas nem se compara ao tamanho da rachadura que se estende da minha mão esquerda até o meu peito.
Dela vaza palavras e mais palavras que escorrem,
                                                                                 Pingam,
                                                                                 Pingam sem parar no chão.
Ás vezes eu recolho algumas, mas na maior parte do tempo apenas observo com olhos vazios e perdidos para aquele emaranhado de infinito.

12 outubro 2015

Black Water


Minha cama é desconfortável, realmente desconfortável, deve ser porque tenho esse colchão há cerca de 10 anos. As coisas não são feitas para durar tanto, nada nesse mundo é feito para durar.  Assim como as pessoas, assim como os relacionamentos.
Através da porta fechada eu posso ouvir as vozes alteradas lá fora, mesmo que estejam do outro lado do corredor, posso escutar até mesmo aquilo que não é dito, mas é expresso: amargura, raiva, tristeza e principalmente cansaço. Cansaço de todos nós.
Eu os conheço apenas de vista, como qualquer vizinho indiferente, mas sei a história, talvez não sua versão, mas no fim elas são todas parecidas.
Eu poderia dizer que é complicado, mas estaria sendo hipócrita. Não há nada de complicado nisso. É apenas mais uma família desgastada tentando se consertar, mesmo que já saibam que algumas coisas não tem conserto.
No final somos apenas pessoas com nossos gritos presos na garganta, nossas frustrações colidindo umas com as outras, e circunstâncias nos moldando, um amontoado infinito de circunstâncias. Eu poderia dizer que é lamentável, mas na verdade não é. É apenas a realidade como ela é, e ela não é bonita.
A verdade é que somos todos um bando de egoístas correndo desajeitadamente atrás de algo chamado felicidade, sem saber em que direção correr e sem saber o que fazer quando chegar lá. E eu poderia dizer que isso sim é lamentável, mas seria o mesmo que dizer que os humanos são lamentáveis, porque não podemos nos impedir que fazer isso uma e outra e outra vez. Ninguém nos explicou nada sobre esse jogo, não sabemos qual é o verdadeiro objetivo, então tudo o que podemos fazer é especular. E tentar. Tentar muito.
E quanto a mim... Eu não faço a mínima ideia do que estou fazendo. Como a maioria.
Sinceramente não me sinto tentar, diria que estou mais para seguir o curso e ver aonde ele vai me levar. E é claro que tenho que fazer escolhas todos os dias, então é impossível dizer que estou deixando nas mãos do destino, mas na maior parte das vezes estou escolhendo aquilo que não exigi muito de mim. Aquilo que não pode me machucar.
E inevitavelmente estarei vivendo a vida mais sem graça que poderia desejar.
Mas o seguro é exatamente isso. O seguro não é emocionante, nem belo ou desejável, porque esses adjetivos não combinam com o que é certo. A beleza não está no meu quarto silencioso com todas as minhas preciosidades que me mantem sã e acima de tudo me mantem distraída. Distraída de desejar algo mais, distraída de me perguntar o que raios eu estou fazendo aqui. Distraída de querer experimentar o que o imprevisível tem a oferecer.
Não. A beleza está lá fora, está no selvagem desconhecido, está nas sensações indomáveis e nas almas dos artistas.
Às vezes eu me pergunto se eu carrego esse buraco no peito justamente porque vejo o mundo com os olhos de um escritor, sempre esperando mais do que a vida pode oferecer, e tento suprimir toda essa vontade dentro de mim antes que ela me devore. Mas então eu penso o quão arrogante é esse pensamento, como se eu realmente fosse capaz de ser sensível ao mundo ao meu redor. Eu me formei em pedra há muito tempo atrás.
E é então que me pergunto se na verdade todos nós carregamos esse buraco no peito, não importando quem somos ou o que queremos e que apenas tentamos nos distrair com milhares de outras coisas o tempo todo para esquecer que estamos sempre insatisfeitos.
Sempre está faltando alguma coisa. Sempre parece haver algo mais nos esperando lá fora.
Houve uma época em que eu acreditava que éramos antigos deuses caídos, com todas as nossas memórias perdidas e quebradas espalhadas no silêncio. E que éramos sempre insatisfeitos porque sabíamos, bem lá no fundo sentíamos que éramos maiores do que isso. Que havia algo errado e quebrado dentro de nós. Algo que ninguém sabia consertar, mas que ainda sim tínhamos que tentar, porque esse era o único jeito. E nessa época eu acreditava que a felicidade que tanto procurávamos era na verdade essa centelha de infinito, o poder que nos foi roubado em outra era.
Mas isso não passa de um sonho de uma criança que um dia eu fui.
Ainda mantenho comigo seu fantasma, mas agora tento não levar muito a sério o que ela diz, porque sonhos de crianças são coisas perigosas, coisas que se deve ter cuidado ao escutar, coisas que se deve ter cuidado ao mexer.
Agora no meu quarto escuro, sobre esse colchão desconfortável, eu me pergunto o quanto aquela criança me dominou e o quanto eu a dominei. Acho que estamos batalhando até hoje, talvez seja por isso que eu insisto em escrever. Deve ser porque ela está desesperada para sair de seu confinamento, desesperada para fazer o mundo do seu jeito, mesmo que ela não tenha poder algum.
As vozes lá fora já pararam, acho que finalmente se renderam ao cansaço por hoje.
Amanhã temos um longo dia pela frente, teremos que levantar e fingir que estamos bem. Teremos que ser adultos responsáveis. E adultos não deixam suas lágrimas caírem em público. Adultos não deixam seus pensamentos escaparem. Adultos não tem tempo para lidar com histórias antigas ou novas. Estamos todos muito ocupados em não deixar esse frágil controle se partir.

Então por hoje vou parar por aqui e tentar enterrar tudo isso dentro de mim antes que o sol nasça e alguém consiga ver por entre as minhas rachaduras.



*nota: essa música é simplesmente viciante.


25 julho 2015

Aquele que não possui nome, mas que trilha os caminhos que eu crio

Hoje ele está agitado por algum motivo que desconheço. Ele anda de um lado para outro na minha frente, seus ombros tensos, seu cabelo despenteado, sua camisa amarrotada, exatamente como alguém que despertou perturbado com alguma visão de outro mundo.

Não posso tocá-lo, mas penso que suas mãos estão frias. Não escuto nada, mas penso que há um pedido mudo no ar.
Talvez seja isso.

Talvez ele queira fazer algo hoje, agora que finalmente despertou de seu sono profundo em algum canto da minha mente quer agir. Quer andar, respirar e sentir. Mas não sabe exatamente como. Afinal ele não tem passado.

Suas memórias, se algum dia existiram, estão perdidas em algum lugar que não posso alcançar. Enterradas profundo demais. Ele depende de mim para criar o caminho que irá percorrer, são minhas palavras que traçam o mundo ao seu redor, que dão seu fôlego, que formam as pedras debaixo de seus pés, os prédios erguidos a sua volta, que colorem o céu acima dele.

Nós, seres humanos, somos egoístas. Não entendemos como esse mundo funciona, mas somos desesperados por possuir algo que nos falta.

E eu não sei como ele acabou acorrentado sobre minha mão, mas uma vez que o tenho não tenho ideia de como deixa-lo ir.
Tudo o que posso fazer é lhe dar histórias, permiti-lo voar no espaço limitado de sua gaiola.
Então vamos lá. Vou cumprir seu desejo hoje. Irei aliviar essa vontade que arranha seu peito.

Irei escrever.

Feliz Dias dos Escritores.

21 dezembro 2014

#Projeto 642 - Mais um item da mega lista

24. Escreva um poema sobre “tomate

Tó, mate.

Segure isso direito,
Você quer um trabalho decente?
Então dê logo um tiro no peito.

Faça com firmeza
      Não duvide
      Não pause
      Não hesite

Não espere para ver vermelho.
Deixe tudo morrer ali
Deixe o julgamento para o espelho.

Hoje é o último dia
Sua última noite vazia

Tó, mate.
Mate todos esses sentimentos ruins que tu carrega no peito.

29 outubro 2014

#Projeto642 - Por um tempo.

     Riscando mais um item da pequena lista de 642 coisas para escrever. Escolhi pular o item dois e para para o terceiro porque eu já tenho um texto pronto que se encaixa perfeitamente.
O escrevi há um tempo atrás quando estava passando por um período difícil fazendo TCC para um curso técnico. Aliás, foi também quando fechei meu antigo blog. E mesmo que tenha voltado a escrever, admito que não tenho mais o costume de escrever em papel como fazia antes.
Espero que gostem, meus caros fantasminhas.





3. O que costumava fazer, porém não faz mais.


São 18:55 da tarde. O cursor preto pisca sem parar na tela branca e me irrita.
Procuro alguma frase decente para escrever, mas acabo por escrever qualquer coisa apenas para fazer o cursor andar, apenas para preencher o vazio angustiante que se estende a minha frente.

Faz tempo que não escrevo. Muito tempo.
Antigamente costumava fazer isso o tempo todo, em cadernos, em folhas soltas, em qualquer espaço vazio que tinha ao meu alcance. Apreciava a caneta deslizando pelo papel, as manchas de tinta em minhas mãos, minha letra curvada sobre o branco e poder segurar todas aquelas folhas juntas como se fosse algo importante.
A contradição é que nunca gostei realmente de algo que já escrevi, devo ter no máximo uns três ou quatro textos, no máximo dez que gosto, os outros me irritam, parecem infantis. Não suporto lê-los. Mas dói muito pensar em jogá-los fora. Ruins ou não ainda são meus, não se joga um filho na rua só por ser malcriado. Então deixo-os todos juntos em meus cadernos de folhas pardas e recicladas. Eles zombam de mim em minha estante.

19:04
Agora escrevo em computadores, em notebooks com teclados macios e silenciosos. É mais prático. Todos os textos novos agora ficam longe de minha vista, em alguma pasta entre outras no computador.
Não consigo me decidir se amo ou odeio a possibilidade de editar depois. Penso que facilita a escrita de um livro, mas como nunca passo de 3 capítulos em qualquer projeto acaba por ser minha tristeza. Antes tudo o que escrevia ficava ali sob minha vista. Agora, a qualquer indício de arrependimento, um trecho inteiro some em um piscar de olhos e nunca mais o terei.
Então tenho que me controlar quando vou apagar, porque ás vezes mesmo as frases ruins servem pra algo depois, mesmo que você não note a princípio.


19:10
.
.
.
.
. Ás vezes a mente fica vazia por um tempo. As palavras fogem como gatos ariscos em ruelas sombrias em uma noite fria.
Mas então.
            De repente.
                               De repente uma ideia surge do nada, como se fosse um interruptor ligado e desato a escrever sem parar pra refletir, porque se penso demais a ideia foge como se tivesse ficado assustada, e uma vez perdida nunca mais encontrada.

19:17
Na maioria dos dias desejo ser lida. Penso em como seria dar autógrafos, conversar com fãs, ser reconhecida na rua não por aparecer na tv, mas por ter escrito algo bom. Penso como seria digitar o nome do meu livro no google e encontrar milhares de blogs comentando e resenhando. Penso em como ficaria feliz de encontrar fotos de estantes com meu livro entre uma porção de outros nas redes sociais. Penso como seria entrar em uma livraria e vê-lo ali, com sua capa nova, seu cheiro de impressão recente, sua lombada sem nenhuma marca, apenas esperando algum leitor qualquer, como eu, entrar ali, pegá-lo da estante e levá-lo para casa onde será lido sabe-se lá quantas vezes. Penso que não me importaria com as críticas porque só o fato de ter sido publicado significa que enfrentei o pior crítico do mundo: eu mesma.

19:28
E então... Então penso que não quero ser lida jamais. Porque sou ruim demais.
Sou infantil e tola, não escrevo nada muito original e não tenho frases filosóficas, não tenho trechos belos que serão repetidos em tumblrs acompanhados de fotos bonitas. Não tenho nenhuma reflexão muita profunda que ninguém durante toda a existência da humanidade já não tenha pensado. Não escrevo o tipo de romance policial inteligente que questione a política e faça observações sarcásticas e rápidas sobre a mídia, o machismo e excesso de poder para poucos.
E o pior de tudo vem agora:
                            Não consigo terminar nada que começo a escrever.
Talvez seja inexperiência, falta de tempo, falta de maturidade, ou criatividade. Talvez eu só precise de mais alguns anos. Mas quantos? 2, 5, 10 ou 15?

19:35
Minha adorável consciência confortadora me consola repetindo: “tudo bem, você pode escrever para si mesma por agora, no futuro seus netos poderão pegar esses velhos cadernos e apreciarem, talvez até questionarem o que sua avó pensava quando mais jovem e como era aquele mundo de uns cinquenta, ou sabe-se lá quantos anos, atrás. E talvez, apenas talvez, você seja daqueles casos, como os pintores, de só ter seu livro publicado e famoso depois que já não estiver mais aqui e então você será eternizada”.

Eternizada.
Eu me pergunto: Eu quero ser eternizada?
.
.
.
.
Não. Quero dizer, não que eu reclamaria se acontecesse, mas não é algo realmente importante, não de verdade. Afinal eu tenha consciência de que não sou nenhum Shakespeare.

19:41
Agora eu volto ao princípio.
Sendo lida ou não, imortalizada ou não. Eu gosto de escrever. Muito. E eu fazia muito isso antes. Agora quase não tenho escrito mais, mas sinto falta.
Se pegar meus cadernos e cadernetas para conferir verá lá uma porção de textos, trechos e até mesmo frases soltas dedicadas inteiramente ao meu amor pela escrita, meu carinho pelas palavras, mesmo que não saiba muito bem como usá-las.
Ás vezes penso que deveria parar com isso, afinal quão lamentável é alguém que escreve o quanto gosta de escrever porque não faz ideia do que realmente escrever?
Ler é muito mais fácil. É tão simples. É tão ótimo, agradável e - quando a história é viciante - rápido.

19:46
Logo fará uma hora desde que comecei isso - seja lá o que for isso.
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Sou meio dramática, não? Deve ser um mal de família ou algo assim. O fato de eu ter apenas 17 anos também deve ajudar. Adolescentes tendem a ver as coisas maiores do que são. Talvez seja porque tudo parece eterno nessa idade. As possibilidades são muitas, e o futuro parece lindo, mesmo que incerto.
Além do mais gosto de prolongar, afinal estou matando a saudade. Eu tento esticar minhas palavras porque quero transformá-las em 300 páginas. Mas essa mágica não existe.

19:55
É isso ai. Uma hora inteira. Dá pra acreditar? Você - seja lá quem for - que está lendo deve ter levado apenas minutos para chegar até aqui. É divertido pensar que estamos em linhas de tempo paralelas. É como se fosse ficção científica. Eu levo uma hora e você um minuto. Se sente mais rápido? Pode até pensar que tem super poderes, eu deixo.
Acho que não tenho mais nada agora, ou talvez eu tenha. Mas creio que já enchi demais a sua paciência. Então vou ficar por aqui e talvez eu volte em um outro dia para preencher mais alguma outra página em branco.
Obrigado por ler, mesmo que grande parte disso – seja lá o que exatamente for isto – não faça sentido pra muita gente.


20:00 FIM.